Benigna Villas Boas

Retorno às aulas presenciais: a importância da retomada da avaliação

Thomas R. Guskey, professor emérito da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, publica um texto na Education Week do dia 06/07/2020 em que anuncia um debate “quente”, no atual momento da pandemia e quando as escolas reabrirem: será o caso de os professores retomarem a avaliação que vinha sendo desenvolvida nas aulas remotas?

As considerações de Guskey não se restringem à situação de pandemia. Referem-se ao trabalho pedagógico da escola em qualquer época.

Vejamos como o autor se posiciona. Os simpatizantes da ideia, diz ele, argumentam que, principalmente no caso do retorno às aulas presenciais, a possibilidade de a avaliação ter continuidade e não simplesmente ser ignorado o que foi feito anteriormente, seguindo outro rumo, reduz a ansiedade dos estudantes e lhes permite demonstrar com mais profundidade o que estão aprendendo. Já os seus críticos entendem que esse processo diminui a motivação dos estudantes e os encoraja a adotar pobres hábitos de estudo, que os tornarão mal preparados para os cursos de nível superior e para o mundo do trabalho.  

Recorrendo a Bloom e colegas, Guskey nos brinda com uma brilhante análise do tema, afirmando que poucos proponentes ou críticos dessa ideia sabem que ela pode ser compreendida a partir dos estudos realizados por Benjamin Bloom nos anos 1960. Este pesquisador observou que os recursos avaliativos utilizados por muitos professores, ao final de uma unidade, servem principalmente para confirmar para quais estudantes as atividades foram apropriadas ou não. Contudo, se esses recursos forem usados como parte do processo instrucional para oferecer feedback aos estudantes, tornam-se poderosas ferramentas de aprendizagem. Bloom denominou esse processo de avaliação formativa (BLOOM, 1968; BLOOM, HASTINGS and MADAUS, 1971). Esta posição de Bloom reforça nosso entendimento de avaliação como aprendizagem.   

A avaliação sozinha pouco faz para promover as aprendizagens. O que importa é o que acontece depois dela, completa Guskey: como os estudantes e professores usam seus resultados. Importante observar que o autor se refere a professores e estudantes, como requer a avaliação formativa, e não somente a professores.  

Bloom enfatiza que, para atender às necessidades detectadas, a avaliação formativa deve incluir instrução de alta qualidade. Esse processo inicial de atendimento às necessidades identificadas é conduzido na turma, sob a orientação do professor. Não se trata de atividades opcionais a serem realizadas pelos estudantes isoladamente, em forma de deveres de casa ou de sessões especiais de estudo após as aulas. Percebe-se, assim, como Bloom é exigente com a avaliação formativa.

Enquanto o professor trabalha com os estudantes que ainda não desenvolveram as aprendizagens requeridas, os que demonstraram estar em dia se engajam em tarefas de enriquecimento. Em lugar de seguirem adiante, aprofundam seus conhecimentos, completa Guskey.

Os estudantes que passam por atividades de intervenção, como hoje as denominamos, vivenciam o sucesso, de primordial importância em seu percurso escolar. Esta é a avaliação formativa em ação.

Guskey conclui seu texto afirmando que a questão “devem os estudantes receber uma segunda chance?” deve ser substituída por “Como podemos usar a avaliação para promover as aprendizagens?”  Se incentivamos o sucesso desde o início do processo de avaliação, muito provavelmente realizaremos o sonho de Bloom de termos todos os estudantes aprendendo.

O trabalho realizado durante as aulas remotas terá de ser articulado ao das aulas presenciais, quando estas forem retomadas. O que está acontecendo ou aconteceu nas primeiras não será arquivado. A avaliação formativa é que favorece essa conexão. O prosseguimento do trabalho será assegurado pela avaliação diagnóstica, parte integrante da avaliação formativa, de modo a se identificarem as possíveis necessidades de intervenção pedagógica, para que todos vivenciem o sucesso. Será um recurso para que esse tempo sombrio da pandemia tenha suas marcas minimizadas.

Referências

Bloom, B. S. (1968). Learning for mastery. Evaluation Comment (UCLA-CSEIP), 1(2), 1-12.

Bloom, B. S., Hastings, J. T., & Madaus, G. F. (1971). Handbook on formative and summative evaluation of student learning. New York, NY: McGraw-Hill.

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