Benigna Villas Boas

Quando a reprovação será reprovada?

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Li uma reportagem de uma revista de circulação nacional com o seguinte título – Fechamento de ano: quais critérios adotar para aprovar ou reprovar os alunos? Vou comentar apenas o título, que parece sugerir a manutenção da reprovação e que, ao final do ano, a escola conta com ela. Várias iniciativas têm sido postas em prática por alguns sistemas de ensino no sentido de eliminá-la, como ciclos de aprendizagem e progressão continuada. No entanto, a figura da reprovação ou retenção continua firme e forte.  

Ao referir-se à “sina classificatória” existente nas escolas,  Vasconcellos questiona:

de onde vem o desejo tão forte dos professores de classificar os alunos? De onde vem a defesa tão apaixonada da reprovação? De onde vem a convicção de que a retenção é uma coisa boa (ou, no mínimo, ‘um mal necessário’)? De onde vem a necessidade de reprovar? Por que grande parte do professorado não se rebela com os históricos altíssimos de índices de fracasso? Que coisa é essa que atua em nós no sentido de classificarmos e condenarmos o outro? (2014, p. 31-32).

Será que os questionamentos acima têm causado incômodo? Cabe aos sistemas de ensino que anunciam praticar a avaliação formativa repensarem a adoção da reprovação ou retenção, colocando-a em discussão pelas escolas, com a participação dos pais. Talvez estes sejam os que mais a defendam, por acreditarem ser a incentivadora dos estudos dos filhos. Não é uma prática condizente com a educação democrática, que pretende ser inclusiva. Alguns esforços têm sido envidados, como desenvolvimento de projetos interventivos, ao longo do ano, para que se mantenham os estudantes em contínua aprendizagem. Mas ainda são incipientes e não há notícias de que estejam garantindo a continuidade do processo de aprendizagem.

O título da reportagem acima não é feliz porque não é educativo. Não convida à reflexão sobre o significado negativo da reprovação. À primeira vista, quem o lê pode se interessar, de imediato,  pelos critérios que justificam a aprovação ou a reprovação. Se o título for lido no início do ano letivo, os dois temas nele incluídos (aprovação e reprovação) poderão atrair a atenção e induzir o professor não atualizado quanto à função formativa da avaliação a deles se ocupar, em lugar de priorizar a organização do trabalho pedagógico que impulsione as aprendizagens de todos os estudantes.  E mais: por que fechar o ano pensando em aprovação e reprovação?

Referência

VASCONCELLOS, Celso dos S. Avaliação classificatória e excludente e a inversão fetichizada da função social da escola. In FERNANDES, Cláudia de O. (org.). Avaliação das aprendizagens: sua relação com o papel social da escola. SP: Cortez, 2014.

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