JC Notícias – 22/09/2022
Nascido em 2019, projeto social da Unicamp busca reter a evasão feminina no meio acadêmico, propondo o intercâmbio de ideias entre alunas do ensino fundamental e cientistas
Do total de cientistas espalhados pelo mundo, apenas 28% são mulheres, segundo dados da Unesco. A participação feminina é menor ainda na educação de STEM, sigla em inglês que agrupa as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Mundialmente, já é perceptível que o interesse das meninas em atuar com ciência vai se perdendo com o passar dos anos, principalmente entre o início e o fim da adolescência. E como mudar esse cenário? Os números da Unesco e a necessidade de trazer a comunidade à ciência geraram uma inquietação em alunas, funcionárias e professoras da Unicamp. Assim nasceu o projeto Meninas SuperCientistas.
“O Meninas SuperCientistas foi criado em 2019, inspirado num projeto do Museu Nacional do Rio de Janeiro. O nosso público-alvo são meninas do Ensino Fundamental 2, que é do quinto ao nono ano. E isso dá uma faixa etária em torno de 11 a 14 anos. Porque segundo dados da Unesco, é quando as meninas vão perdendo o interesse por temas de ciência e tecnologia. Então, a gente quis trabalhar com esse público para fazer com que elas não se distanciassem da ciência”, explica Ana Augusta Odorissi Xavier, umas das organizadoras da iniciativa.
Na prática, o Meninas SuperCientistas seleciona 65 participantes para um mês de imersão com cientistas mulheres renomadas em Campinas, cidade da região metropolitana de São Paulo. Com quatro encontros, a ideia é promover uma troca entre quem já atua nas áreas de STEM e quem vê na ciência uma possibilidade de futuro.
Nos dois primeiros anos, o programa já atendeu 115 meninas. A edição de 2022 ainda não tem data fechada, mas seu calendário de programação sairá em breve, com 70% das vagas destinadas a estudantes de escolas públicas e 30% de instituições particulares.
“Nós gostaríamos de atender mais meninas, mas ao mesmo tempo a gente quer manter um dos pilares do projeto que é conseguir criar um vínculo com as participantes, para que elas tenham na gente um apoio, e a gente sabe que esse vínculo emocional é bastante importante”, complementa Xavier.
Ter o contato com as crianças e adolescentes fez com que as organizadoras do Meninas SuperCientistas percebessem uma realidade para além dos números da Unesco: no dia a dia, as meninas costumam ser menos incentivadas a realizar atividades exploratórias, as que desenvolvem a criatividade. E isso tem consequências para o futuro a ser seguido.
Além da questão da evasão do interesse em ciência e da falta de incentivos externos, há outro aspecto que impacta negativamente a relação entre meninas e o meio acadêmico: a infraestrutura escolar.
De acordo com dados do Censo Escolar, divulgados pelo Ministério da Educação em 2019, apenas 38,8% das escolas públicas possuem laboratórios de ciência. “E esse número afeta as ciências que são feitas dentro de laboratório, né? Mas se formos falar de ciências humanas, a situação é pior, já que muita gente nem sabe que se faz ciência nas humanidades”, alerta Xavier.
Caminho contínuo
Enquanto se preparam para a realização da edição de 2022 do Meninas SuperCientistas, as organizadoras já refletem sobre o crescimento do projeto. “Nós queremos fazer um acompanhamento maior das meninas, não só chamá-las, trazê-las para dentro da universidade, mostrar tudo isso e depois diminuir o vínculo, né? Então, a gente está organizando outras ações, como um projeto de mentoria de cientistas mulheres com essas meninas, para acompanhá-las por um período mais longo.”
Para a organizadora do projeto, a grande conquista do Meninas SuperCientistas não é a educação científica, mas o relacionamento. “É muito legal ver quando as meninas começam as atividades [do projeto], parece que elas se encontram. Porque muitas já têm esse interesse em ciência, em experimentar, descobrir coisas novas e, às vezes, não são incentivadas, principalmente por não terem exemplos de mulheres que façam isso, tanto na escola quanto entre as amigas. Então, quando elas vêm para o projeto e conhecem outras meninas que têm os mesmos interesses e conhecem também mulheres que seguiram essa carreira, elas se sentem pertencentes a um grupo”, conclui.
Para saber mais do projeto Meninas SuperCientistas, basta acompanhá-lo no seu site oficial ou em seu perfil no Instagram.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência