Benigna Villas Boas

Presença constante da avaliação

 

Presença constante da avaliação

Em reportagem ao jornal El País, de 05/04/2018, com o título “Aprender a falar em público deve ter o mesmo peso do que aprender matemática nas escolas”, Neil Mercer, diretor do centro de Oratória de Cambridge, defende que os professores têm que atuar também no desenvolvimento das habilidades e não só na transmissão de conhecimento. Ele dedica-se a estudar como a forma de falar influencia os resultados acadêmicos. Acredita que falar em classe é algo tradicionalmente associado ao mau comportamento e que as salas de aula foram concebidas para que os alunos participem em silêncio. Essa é uma realidade que atualmente não ocorre nos colégios privados britânicos, onde os alunos são ensinados a dominar a arte da oratória. “O discurso é para as elites”, critica o diretor do centro de oratória da Universidade de Cambridge, que recentemente apresentou suas pesquisas à comissão de Educação da Câmara dos Comuns (deputados), propondo que o programa acadêmico das escolas públicas britânicas dê importância à oratória.

O departamento que ele coordena, chamado Oracy@Cambridge, foi criado há dois anos e meio para estabelecer uma ponte entre pesquisa, a prática e as políticas públicas com o objetivo de determinar como a expressão oral deve ser ensinada nas escolas e locais de trabalho. A equipe é composta por oito especialistas em educação, pesquisadores e assessores públicos. Um de seus estudos demonstrou que as crianças que dominam a oratória obtêm melhores notas em matemática e ciências. Mercer já assessorou os governos de Gales e Singapura para incluir a oratória em seus programas acadêmicos.

Para Mercer, professor emérito de Educação em Cambridge, trata-se de uma questão de desigualdade social: os filhos de famílias mais privilegiadas costumam frequentar colégios que os ajudam a melhorar sua expressão oral e dar o melhor de si. Essa habilidade lhes propiciará acesso a melhores postos de trabalho, porque serão capazes de negociar. O pesquisador quer que se formem professores para as escolas públicas capazes de enfrentar o problema de frente, de modo a favorecer as aprendizagens das crianças que não aprendem a falar corretamente em suas casas. A linguagem influi no rendimento escolar, acredita o pesquisador. As crianças expostas a conversas bem construídas durante a etapa pré-escolar obterão melhores resultados acadêmicos posteriormente.

Acrescenta o professor Mercer que, quando as crianças chegam à escola, sua forma de falar se baseia na experiência que tiveram em casa, o que varia muito de família para família. É na família que se aprende a falar, quando ocorrem os primeiros diálogos. A língua que experimentam será a base do que são capazes de expressar. Pode ser que nunca tenham escutado uma conversa de qualidade, bem construída e com argumentos ordenados, ou que não nunca lhes tenha sido solicitado explicar suas ideias de forma clara. Muitos pais não se animam a tentar. Isso geralmente está associado a uma desvantagem socioeconômica. Algumas crianças serão capazes de respeitar a vez de cada uma usar a palavra, outras sentirão medo se tiverem que falar em público. Para muitas delas, a escola e os professores são sua única chance de desenvolver a oratória. O professor nunca deve menosprezar sua influência sobre as crianças. A forma pela qual aprendem a falar depende, em muitos casos, da maneira como o docente se dirige a elas.

Se as crianças e jovens aprenderem a se comunicar de forma efetiva, serão mais bem avaliadas e participarão com mais sucesso em atividades sociais. A expressão oral já é ensinada nos colégios privados, acessíveis para as famílias com mais recursos econômicos, diz Mercer. Entretanto, esses centros não ajudam a promover a igualdade social e a mobilidade no Reino Unido.

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