Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Publicado em www.benignavillasboas.com.br
Fevereiro de 2023
A escola de educação básica convive com três níveis de avaliação: a desenvolvida em sala de aula, por professores e estudantes; a autoavaliação pela escola, mais conhecida como avaliação institucional; e a avaliação em larga escala, realizada em nível nacional, pelo MEC, e pelos sistemas de ensino estaduais e municipais. Estes níveis se articulam e se fortalecem.
Como estamos iniciando o ano letivo de 2023 e a avaliação é a mola propulsora do trabalho pedagógico escolar, não é demais reavivarmos suas potencialidades. Iremos nos debruçar sobre a avaliação institucional, que carece de discussão aprofundada sobre a sua concepção, práticas e articulação com os outros dois níveis.
A avaliação institucional mantém inseparável vínculo com o projeto político pedagógico da escola (DALBEN; SORDI, 2009). Constitui um processo desenvolvido ao longo do ano letivo, quando se confrontam e se analisam as informações sobre a situação de aprendizagem dos estudantes e as advindas da avaliação em larga escala, como é o caso do SAEB, para que se identifiquem as necessidades de reorganização das atividades em cada turma e em toda a escola. O seu alvo são as aprendizagens de todos os estudantes. Isso se faz pelo acompanhamento das ações realizadas em todos os espaços de aprendizagem (salas de aula e outros), nos encontros do conselho de classe, nas coordenações pedagógicas, nos encontros com os pais, com os profissionais que atuam na escola, em festas comemorativas etc. Sendo assim, não é episódica, isto é, não tem dia nem hora para acontecer: é praticada continuamente, enquanto há tempo de serem oferecidas intervenções pedagógicas.
O projeto político-pedagógico não é um documento burocrático guardado no arquivo escolar. É considerado o “referencial para toda e qualquer ação no interior da escola, seja ação coletiva ou individual” (Dalben e Sordi 2009, p. 155). As atividades nele previstas e as desenvolvidas e a tomada de decisão sobre as necessidades de mudança de rumo constituem objeto de análise pela avaliação institucional. Enquanto o trabalho se realiza, esta avaliação pela escola está em curso. O seu registro se faz ao longo do ano. Ao seu final, são sistematizadas as informações recolhidas que, organizadas, farão parte do documento sistematizador de todo o processo. Assim, a avaliação institucional é o processo de análise do trabalho escolar, registrado em um documento próprio.
Por meio da autoavaliação constante, isto é, da avaliação institucional, a escola olha para si com o intuito de reflexão e redimensionamento de suas atividades, sempre que necessário, para que o processo de aprendizagem dos estudantes e a atuação e a formação continuada dos professores prossigam sem percalços. Está sempre em busca de respostas a indagações como estas: o que está favorecendo e o que está dificultando a construção de aprendizagens pelos estudantes, em termos pedagógicos e administrativos? Quais as necessidades de reorganização do trabalho pedagógico, em sala de aula e em toda a escola? Quais providências devem ser tomadas para o atendimento às necessidades encontradas? Por isso, é um processo desenvolvido continua e participativamente. Toda a comunidade escolar nele se engaja. Não nos esqueçamos de que os pais/responsáveis são colaboradores permanentes.
Para que o processo de avaliação institucional cumpra o que dele se espera, é indicado o letramento em avaliação de toda a equipe escolar, no próprio ambiente de trabalho. Por que toda a equipe? Pelo fato de os seus componentes se envolverem no processo avaliativo e de modo particular na avaliação institucional. São momentos de incorporação de saberes relacionados à avaliação e de análise e de renovação de suas práticas.
O documento sistematizador da avaliação institucional não se presta a fazer parte do arquivo da escola. Fica acessível para consulta. Tem um papel a cumprir: orientar o início das atividades do ano seguinte, inclusive a organização do projeto político-pedagógico. Esta é a avaliação em processo.
Com esta configuração, a avaliação institucional se inscreve nos preceitos da função formativa da avaliação, por estar a serviço das aprendizagens. Consequentemente, duas práticas são abandonadas: a de ser “realizada” ao final do ano e a de cumprir exigências burocráticas do sistema de ensino. Em lugar de todas as escolas receberem roteiro padronizado para a sua organização, por que não deixar que cada uma crie a sua sistemática, segundo suas especificidades? Por meio desta dinâmica, o processo de letramento em avaliação está em curso.
Referência
DALBEN, Adilson; SORDI, Mara R. L. Avaliação institucional: qual o seu “poder”? In SORDI, Mara R.L; SOUZA, Eliana da S. A avaliação como instância mediadora da qualidade da escola pública. Campinas: SP, Millenium, 2099.