JC Notícias – 14/04/2023
Na edição desta semana da Editoria Especial do JC Notícias, reunimos notícias e análises, nacionais e internacionais, para alimentar um debate que vem crescendo no mundo todo: devemos impor limites ao desenvolvimento da Inteligência Artificial? Ou devemos simplesmente nos adaptar ao que vem pela frente?
Parece que o futuro tão distante das ficções científicas chegou. E apesar da vasta produção literária e cinematográfica, e, principalmente, dos avanços científicos que já se estendem por décadas, nos sentimos como se fôssemos pegos de assalto, maravilhados e tementes diante das fronteiras que a Inteligência Artificial vem rompendo, cada vez mais velozmente. Quais os limites dessas tecnologias? Que coisas maravilhosas elas podem nos proporcionar? Que poder elas podem eventualmente ter sobre nós, humanos?
Lançado em novembro de 2022, ou seja, há menos de seis meses, o ChatGPT, um assistente virtual no formato de chatbot online capaz de escrever sobre basicamente tudo, com eloquência e riqueza de detalhes, impressionou até mesmo os grandes nomes da tecnologia mundial, como Bill Gates. Em fevereiro, a ferramenta, disponível gratuitamente, já havia alcançado mais de 100 milhões de usuários em todo o mundo e discussões sobre sua influência (boa ou má) na educação, na academia, no mercado de trabalho e em outras frentes tomaram conta dos meios de comunicação.
Além do ChatGPT, temos visto brotar ferramentas de IA que auxiliam em praticamente tudo: elas produzem imagens realistas, clonam vozes, dirigem carros, diagnosticam com precisão os seres humanos, calculam e produzem estatísticas, fazem previsões econômicas, financeiras e meteorológicas…enfim, o céu tem sido o limite para suas aplicações.
Será a Inteligência Artificial, cada vez mais requintada, capaz de substituir a criatividade, a racionalidade e a sensibilidade humana? Será que estamos caminhando a uma saga Matrix, onde seremos controlados por máquinas que se alimentam de nossas consciências?
Por enquanto, essa inteligência ainda não parece tão inteligente assim. Treinadas por humanos, essas tecnologias que empregam a IA estão carregadas de vieses preconceituosos, racistas, classicistas. Também não são capazes de ir muito além na criação artística. Um texto produzido pelo ChatGPT ainda está muito longe da maturidade e excelência de um escritor humano, pois mostra muito mais embromação do que criação. Porém, este é apenas o começo de uma caminhada que não temos ideia de quão longe pode ir – e nem em que velocidade.
O pai do ChatGPT, Sam Altman, um norte-americano de 37 anos, comparou a escalada da IA no mundo ao impacto do Projeto Manhattan no desenvolvimento científico e geopolítica mundiais. Segundo disse, essas tecnologias serão capazes de trazer ao mundo prosperidade e riqueza “como ninguém jamais viu”, porém, assim como a aplicação da fissão atômica na indústria armamentista durante a II Guerra Mundial, a IA também pode ter consequências imprevisíveis e perigosas, caso não seja regulamentada.
Como alertou o físico Stephen Hawking, “o sucesso na criação da inteligência artificial seria o maior evento da história humana. Infelizmente, também pode ser o último”.
Países da União Europeia já estão debatendo a adoção de regulamentações para garantir a privacidade e proteção dos dados pessoais dos usuários. Na Itália, o ChatGPT foi suspenso. No Brasil, o debate também começa a tomar corpo e chamar a atenção para necessidade de uma legislação que permita que o País faça parte dessa nova corrida tecnológica, mas também que estabeleça os limites éticos para seu desenvolvimento e implementação.
Lembramos, ainda, que o ChatGPT e seus análogos colocam questões sérias para a educação. Primeira, como saber se o trabalho de um aluno foi redigido por ele mesmo ou pelo GPT? Mas esta questão é ainda pequena perto da segunda: se um instrumento pode escrever rapidamente e bem sobre praticamente qualquer assunto, para que formaremos nossos estudantes? Aparentemente, o GPT já dá conta do que seria um trabalho de graduação, mas não necessariamente de um TCC. Porém, pode ser questão de tempo ele redigir um mestrado.
O limite do GPT parece ser a sua incapacidade de criar. Ele resume o que existe – mas isso é o que se quer, hoje, na educação mesmo superior. Até mesmo do mestrado não se exige que seja original. Deveremos, então, enfatizar a criatividade na educação? Parece uma boa ideia, mas antes de um aluno começar a criar, a mostrar originalidade, continuaremos a formá-lo da forma tradicional?
Por enquanto, o GPT está muitas vezes aquém da Wikipédia, talvez porque a enciclopédia online seja constantemente revisada por inúmeros colaboradores benévolos. E, quando se pede que escreva uma poesia, às vezes lhe indicando o estilo do autor a quem imitar, os resultados são pífios. Mas essa é uma questão de tempo. E, como o tempo urge, é importante colocar a discussão desde já.
Nesta edição da Editoria Especial semanal do JC Notícias, reunimos algumas notícias e análises, nacionais e internacionais, para alimentarmos um pouco esse debate: devemos impor limites ao desenvolvimento da Inteligência Artificial? Ou devemos simplesmente nos adaptar ao que vem pela frente?
Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)