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Não é hora de aprovar nem reprovar estudantes

Reportagem do G1, de 04/10/2020­­­­, lança o seguinte questionamento: reprovar todos os alunos, aprová-los automaticamente ou discutir cada caso? Reter estudantes aumenta a evasão, mas aprovar todos pode gerar lacunas na aprendizagem, afirma a reportagem. Neste ano em que convivemos com a pandemia, não há regras a serem seguidas. Deve prevalecer o bom senso. É necessário tomar a decisão pedagogicamente correta, isto é, a que leve em conta o direito de todos os estudantes às aprendizagens.  

Nem todos eles tiveram acesso ao ensino remoto ou às atividades impressas viabilizadas pelas escolas, por vários motivos. Diante da desigualdade no acesso à educação, é certo reprovar estudantes em 2020?  Se todos forem aprovados automaticamente, como lidar com as lacunas deixadas por meses sem contato com os professores? Estas são as indagações feitas pela reportagem.

Abaixo são listadas 5 sugestões de especialistas em educação, pedagogos, secretários de redes estaduais e coordenadores de colégios particulares do país, incluídas na reportagem:

aprovar todos os estudantes;

permitir a reprovação apenas nas escolas particulares, onde houve acesso ao ensino remoto;

cancelar o ano letivo das escolas públicas e reprovar todos os seus alunos, para dar oportunidade de aprenderem de fato em 2021;

juntar os anos letivos de 2020 e 2021, pensando em reprovação só no fim do biênio;

avaliar cada caso individualmente.

Com exceção da última sugestão, as demais denunciam o despreparo pedagógico de quem as apresentou.

Além das sugestões acima, a reportagem apresenta uma que considero absurda, discriminatória e excludente: “Alguns alunos conseguiram se adaptar, mas a maioria teve dificuldade. Nossa proposta é reprovar todos os estudantes mais pobres, uma espécie de reprovação automática nas escolas públicas. É um jeito de recuperar o tempo perdido, sem deixar ninguém para trás ou aumentar a desigualdade” (negrito meu).

Neste momento de crise sanitária que acomete todo o mundo, não cabe aprovar nem reprovar estudantes. Não é o caso de se aprovarem todos. Não é a aprovação que interessa, mas a conquista das aprendizagens. Também não faz sentido reprovar estudantes por não lhes terem sido oferecidas oportunidades para aprenderem.  Não cabe rotular, discriminar nem classificar.

Não sabemos quando as escolas voltarão a desenvolver o trabalho tal como vinham fazendo. Por isso, não é o caso de se tomarem decisões precipitadas.

A “recuperação de estudos”, mencionada na reportagem, não existe. Trata-se de um recurso retrógrado, ainda mencionado em documentos escolares. Pensemos: não se recupera o que não houve, o que não aconteceu. Não há nada a ser recuperado. As aprendizagens é que precisarão ser garantidas a todos os estudantes, das escolas públicas e particulares. Aliás, esta ideia de recuperação tem sido constante em algumas análises da situação em que nos encontramos. Ela traduz incompreensão sobre avaliação das aprendizagens e destoa do que se quer como avaliação formativa.

A escola terá de reorganizar seu trabalho quando voltar a receber todos os estudantes, de forma a não aprovar “automaticamente” nem reprovar todos. Antes disso, toda decisão será prematura e angustiante. O trabalho escolar dos anos letivos de 2020, 2021 e 2022 deverá ser repensado. Não teremos a mesma escola de antes da pandemia. Pensar burocraticamente não trará contribuição.  

Os estudantes e suas famílias estão fragilizados e precisam de apoio. Não estão em condições de receber vereditos. Cuidemos das aprendizagens possíveis de serem construídas, sem criarmos mais apreensões. Cabe à escola ser educadora e não, destruidora. A avaliação tem uma história de opressão. Não deixemos que esse sentimento tome conta dos estudantes e dos seus pais/responsáveis.

Saibamos tirar lições da pandemia que assola o mundo e o Brasil.

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