Benigna Villas Boas

Incompreensões sobre avaliação se propagam

 

Neste período de pandemia, provocada pelo coronavírus, e de distanciamento social, as pessoas estão em busca de atividades. Algumas delas são a produção de lives e publicações em redes sociais. Dentre as inúmeras às quais tenho tido acesso, li, em uma rede social, um ebook contendo informações/orientações sobre avaliação em tempos de pandemia. Não ficou clara a procedência. Preocupei-me com o que li. Estamos todos fragilizados e informações sobre temas que nos afetam podem nos causar impacto e nos conduzirem a acreditar no que dizem. O intuito do folheto é oferecer orientação sobre modelos e ferramentas de avaliação online para ajudar os professores durante a quarentena.

Primeiro engano: a publicação destina-se a orientar os professores pelo fato de estarmos em período de avaliar os alunos, diz o folheto, como se a avaliação tivesse hora de acontecer. Ela é um processo que acompanha continuamente o desenvolvimento das aprendizagens.

Segundo engano – introduzindo a discussão sobre avaliação tradicional, o texto afirma: “As avaliações ainda fazem parte do processo de ensino aprendizagem”, parecendo se referir a provas ou outros procedimentos. O “ainda” deixa dúvidas. O trecho seguinte confirma meu entendimento: “O processo acontecia dentro da sala de aula, onde o professor reunia seus alunos de forma física e aplicava uma avaliação”. Por que “acontecia”? Não é o que costuma acontecer?

Como exemplos de avaliação tradicional, citam-se a diagnóstica, a formativa e a somativa. Estas funções da avaliação não são “exemplos” de avaliação tradicional. Outra incompreensão: a formativa é apresentada como um “modelo trabalhoso”, porque o professor precisa “criar avaliações diferentes para cada aluno, visto que, (sic) não adianta fazer a mesma prova ou propor o mesmo trabalho para todos: cada aluno está num estágio diferente”. Transmite-se a ideia de a avaliação formativa ser complicada e, novamente, associa “avaliações” a provas. Além disso, o que significa “criar avaliações para cada aluno”? Quem elaborou o folheto precisa estudar sobre avaliação.

Mais à frente, afirma-se que a avaliação diagnóstica, a formativa e a somativa não “refletem o aprendizado real do aluno” e não o preparam para o mercado de trabalho. Incompreensão completa sobre funções da avaliação.

A autoavaliação, a avaliação por pares, a realizada em grupos, a online, a oral, a gamificada são apresentadas como “avaliação complementar”. Qual seria a principal, no entendimento dos autores? Segundo eles, a autoavaliação requer que o aluno se atribua uma nota. Ora, isso a enfraquece, porque, sabedor de que assim deverá proceder, ele não agirá com naturalidade.

As proposições deste documento não apontam contribuições para o desenvolvimento do processo avaliativo, mas, como ele circula pela internet, é preciso analisá-lo cuidadosamente para não incorporar suas fragilidades. Leitores desavisados poderão dele se valer.

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