Incompreensões sobre a avaliação formativa
Deparei-me com um relatório individual de avaliação bimestral de estudante, dividido em duas partes (digo assim porque não são articuladas). A primeira tem o título de “Avaliação Formativa do Estudante” e a segunda, na mesma página, de “Avaliação dos objetivos desenvolvidos no bimestre”. Esta separação indica que a segunda parte não se insere na avaliação formativa.
A parte que é denominada de “Avaliação formativa do estudante” compõe-se dos seguintes itens:
“Chega atrasado frequentemente
Não traz o material necessário para a aula
Precisa desenvolver hábito de estudos
Uso de celular sem o consentimento do professor(a)
Tem comprometimento e ótima aprendizagem
É esforçado, porém ainda apresenta dificuldades de aprendizagem
Tem potencial, mas não se esforça
Tem dificuldade de aprendizagem, não conseguiu realizar as atividades sozinho, apenas na presença do professor
Tem dificuldade de aprendizagem e realizou satisfatoriamente as atividades propostas
Tem dificuldade de aprendizagem e não realizou satisfatoriamente as atividades propostas
Falta de interesse e não realizou satisfatoriamente as atividades propostas
Encaminhamento à (ao) _________”
Cada aspecto será assinalado a cada bimestre, pelo/a professor/a, sem levar em conta a que componente curricular corresponde. Tudo indica que o/a professor/a assinalará os itens que se referem a dificuldades de aprendizagem e à não realização satisfatória das atividades propostas, sem apontar quais são elas. Portanto, para que serve esse relatório? Não será o de apontar em quais aspectos o estudante necessita de ajuda.
Várias são as análises que podem ser feitas sobre estes itens. Meu interesse aqui é o de destacar o entendimento de avaliação formativa estampado no relatório. A observação inicial é de que ela se vincula unicamente a aspectos comportamentais e atitudinais, o que não se coaduna com esta função avaliativa. Não é o caso de se rejeitaram esses aspectos. Porém, não constituem o cerne dessa avaliação. Eles compõem o que podemos denominar de disciplina para o trabalho: hábitos de estudo e de cumprimento das tarefas, atitudes de colaboração e de convivência com colegas e professores, entrega das atividades nos prazos estabelecidos etc. No seu conjunto, contribuem para a construção das aprendizagens pelos estudantes, mas a eles não se atribuem pontos nem notas, assim como a sua não observância não é usada para penalizá-los. Também não são tornados públicos. Não é o caso de serem comentados em voz alta na sala de aula. A discussão sobre eles interessa ao professor/a, estudantes e seus pais/responsáveis. O importante é que se vivencie a disciplina para o trabalho que favoreça o avanço das aprendizagens. Portanto, insisto: qual a finalidade dessa parte do relatório? Torna-se necessário que os professores reflitam sobre isso.
O relatório bimestral em tela denota incompreensão sobre a avaliação formativa. É um excelente indicador das necessidades dos professores que o elaboraram. Os gestores educacionais devem acompanhar iniciativas desse tipo para que promovam as necessárias ações de formação continuada coordenadas por pessoas estudiosas do tema avaliação, por ser a categoria que encaminha o desenvolvimento do trabalho pedagógico da sala de aula e da escola como um todo.
A situação aqui relatada e outras indicam a urgência de se enfrentarem os desafios ainda existentes sobre a avaliação formativa, tais como:
– Entendimento completo sobre o seu significado, suas intenções, práticas, os registros da conquista de aprendizagens pelos estudantes e a forma de sintetizá-los para que sejam visualizados pelas equipes da escola, pelos estudantes e seus pais/responsáveis.
– Formação continuada em forma de estudos com a utilização de livros, acompanhada da elaboração e desenvolvimento de projetos sobre as necessidades específicas da avaliação. Esses projetos serão mais significativos se envolverem mais de uma escola.
– Realização de sessões de estudos com pais/responsáveis sobre a avaliação formativa, para que apoiem o trabalho escolar e dele sejam copartícipes.
– Acompanhamento das ações avaliativas escolares por pessoas estudiosas e pesquisadoras do tema. Sugestão: por docentes que têm mestrado e doutorado. Temos de valorizar a sua atuação.
– Desenvolvimento de atividades entre docentes formadores dos cursos de licenciatura e as equipes das escolas de educação básica. Essa ação conjunta é imperiosa para que a formação inicial de professores esteja afinada com as necessidades das escolas de educação básica.