Há oposição entre a avaliação somativa e a formativa?
Recentemente li um roteiro de discussão sobre avaliação, elaborado por uma escola de educação básica, que dizia que a avaliação somativa exclui (os estudantes) e a formativa inclui (os estudantes). Este é um exemplo de compreensão de que estas duas funções avaliativas se opõem. É um equívoco que precisa ser reparado.
A avaliação formativa, por promover as aprendizagens, tem o propósito de incluir todos os estudantes nesse processo. Ela quer que todos aprendam tudo o que for necessário para o prosseguimento dos estudos. Não se interessa por notas e por promoção de um ano a outro. A existência de notas não é um empecilho para que ocorra. Contudo, nesse contexto, são vistas como decorrência do processo de avaliação. Trabalha-se para que estudantes, professores e pais/responsáveis assim as considerem. Afinal de contas, ainda há um caminho a percorrer até que percam seu reinado.
Quando a avaliação formativa é a que norteia a conquista das aprendizagens, o avanço de um ano a outro pode se dar independentemente do ano civil e não necessita de os estudantes caminharem em bloco. A própria ideia de avaliação formativa quer que, assim que as aprendizagens sejam evidenciadas, eles não fiquem aguardando a época “certa” para se inserirem em outro ano escolar ou em outro grupo.
Uma das grandes diferenças entre a avaliação formativa e a somativa é que a primeira se realiza durante todo o trabalho desenvolvido com os estudantes. Não tem hora marcada. Todas as atividades são avaliadas, formal e/ou informalmente. Os resultados obtidos por meio de procedimentos formais se articulam e resultam na reorganização do trabalho, de modo a beneficiar todos. Não é o caso da somativa: tem hora de acontecer; faz um balanço da conquista das aprendizagens em certos componentes curriculares ou em todos, durante um determinado período; costuma ser realizada por intermédio de provas; pode ser realizada pela escola, não com o propósito de fazer ranqueamento por meio de notas, mas de identificar a situação de aprendizagem, com vistas à tomada de decisões; pode ser realizada pelo sistema de ensino, não para produzir ranqueamento de escolas, mas para conhecer o desempenho dos estudantes e promover as mudanças necessárias. Assim concebida, essa função avaliativa não se destina a excluir os estudantes. Ela produzirá exclusão se, de posse de informações sobre as suas necessidades de aprendizagem, não tomar providências, o que contrariará sua função democrática.
A avaliação formativa e a somativa não se contrapõem: têm propósitos diferentes. Quem afirma que a última exclui talvez a confunda com a classificatória, que não é formativa nem somativa: apenas abandona à própria sorte os estudantes que necessitam de mais apoio para a conquista das aprendizagens.