Texto de autoria do professor Paulo Gileno, diretor eleito pela Escola Classe 410 de Samambaia, no DF, e publicado pelo Observatório de Educação Básica da Faculdade de Educação da UnB, no dia 27/10/2023
No último dia 25 deste mês, a comunidade escolar das escolas públicas participou do pleito para a escolha da equipe gestora, diretor(a) e vice-diretor(a) e dos membros para o Conselho Escolar que irão conduzir as unidades escolares para os próximos quatro anos. Num primeiro momento, nos parece muito positivo que a escolha seja democrática, porém, a pouca atratividade da função da equipe gestora, associada à baixa valorização, e principalmente à sobrecarga de trabalho e responsabilidade, refletiu num quadro em que a maioria das escolas tiveram apenas uma chapa e inclusive, seis escolas não tiveram nenhuma chapa inscrita. Para a eleição do Conselho Escolar, diversas escolas tiveram dificuldades para conscientizar os membros de cada segmento da comunidade escolar sobre a importância desse colegiado, visto que é a voz dos alunos, pais, servidores e professores na condução da escola em parceria com a equipe gestora. Esse quadro serve de alerta para a saúde da democracia nas unidades escolares do Distrito Federal. A pergunta principal que nos vem é: Por que cada vez menos os professores e servidores da carreira assistência não têm demonstrado interesse em desempenhar a função de diretor(a) e vicediretor(a). Algumas questões servem de parâmetros para tentar identificar as causas desse desinteresse. O primeiro aspecto é a democratização do cotidiano das escolas, as metas e objetivos devem ser construídos coletivamente e democraticamente sendo devidamente registradas no Projeto Político-Pedagógico de cada unidade de ensino. Essa construção deve acontecer no início de cada ano letivo na semana pedagógica, com a participação de todos os segmentos, mas principalmente dos profissionais da carreira magistério. Mas, diante da realidade de aproximadamente 65% dos professores que compõem a rede estarem em regime de contratação temporária e por esse motivo, impedidos de participar da semana pedagógica, pois são contratados para darem aula, a construção desse documento norteador fica prejudicado. Logo, a dificuldade no planejamento das ações pedagógicas para o ano letivo, leva às dificuldades na execução destas. Outro aspecto importante é a baixa remuneração para exercer as funções da equipe gestora. O valor pago está longe de ser o justo para tamanha responsabilidade. No caso das Escolas Classes, o valor recebido é um dos menores pagos entre os cargos de chefia do Governo do Distrito Federal. Recentemente inclusive, o governador publicou através de decreto, um reajuste para todos os cargos de chefia, inclusive o seu, mas deixou de fora os diretores, vice-diretores, supervisores e chefes de secretaria. Refletindo assim, infelizmente, a desvalorização dessas funções. O excesso de responsabilidade talvez seja o principal aspecto a inibir a participação no pleito desse ano e outros anteriores. Equipes mínimas e falta de pessoal de apoio, tornam o cotidiano exaustivo. A culpabilização pelos problemas da educação pública é a maior das injustiças com aqueles que decidem dedicar a sua vida profissional e até certo ponto pessoal, em busca do sonho de oferecer aos nossos alunos educação pública de qualidade. É costumeiro ouvir, inclusive do próprio governo, que tudo é culpa da equipe gestora. Logo, questionamos a quem interessa o desinteresse na participação em compor as equipes gestoras e do Conselho Escolar? Muitos ainda persistem, mesmo diante de um quadro tão desafiador. Ações coletivas devem ser tomadas para tornar essas funções mais atrativas, partindo principalmente das representações coletivas, sindicatos e parlamentares que defendem a educação pública. Ser diretor de uma escola pública é difícil, mas também é muito gratificante. Saber que vidas podem ser transformadas pelo seu trabalho não tem preço. A educação pública de qualidade presente em tantos discursos de candidatos políticos só tem sido realidade pelas ações daqueles que estão à frente das escolas que, democraticamente, têm conseguido melhorar a sua comunidade local. Convocamos todas as equipes eleitas para a luta coletiva. O jargão de “juntos somos mais fortes”, tem que ser o nosso lema. Muitos não fazem ideia da nossa força junto a nossa comunidade escolar. Ou talvez saibam. O povo tem muito respeito por todos os profissionais da escola, especialmente pela equipe gestora. Temos o poder de transformar uma sociedade. E assim o faremos.
Professor Paulo Gileno, diretor eleito democraticamente por sua comunidade escolar (Escola Classe 410 Samambaia)