Ensinamentos de Paulo Freire sobre avaliação
No livro Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa (Paz e Terra, 1998), Paulo Freire nos ensina que “o ideal é que, cedo ou tarde, se invente uma forma pela qual os educandos possam participar da avaliação. É que o trabalho do professor é o trabalho do professor com os alunos e não do professor consigo mesmo” (p. 71). Sem essa virtude ou qualidade, diz ele, não se tem a avaliação nem o respeito do educando. Com efeito, o educando respeita o professor que lhe dá voz e manifesta interesse pelo seu sucesso.
O respeito à autonomia, à dignidade e à identidade do educando “não são regalos que recebemos por bom comportamento” (p. 72). São construídos por nós, ao longo do trabalho. Esse é o esforço da prática da coerência. Como falar em meu respeito ao educando se lhe digo que é irresponsável, não cumpre seu dever, não luta por seus direitos e não protesta contra as injustiças, acrescenta o autor? A prática docente é profundamente formadora, portanto, ética. Aqui Freire dá indícios de sua crença na avaliação informal encorajadora, que não apenas constata as fragilidades, mas com elas lida de forma a serem superadas.
Em outro momento do livro, Freire revela sua crença de que “o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que ele ‘se ponha em seu lugar’ ao mais tênue sinal de sua rebeldia íntima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência” (p. 66). Com essa configuração a avaliação informal é desrespeitosa e fere os princípios da avaliação formativa.
Cabe ressaltar que o livro não tem um capítulo dedicado à avaliação, mas ela se faz presente sempre. O autor tece suas considerações sobre ela de maneira articulada aos outros temas, o que é bem positivo. Afinal de contas, o processo avaliativo não tem um momento preciso para acontecer.