Benigna Villas Boas

ELEIÇÃO DE DIRETORES: IMPLICAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

 

ELEIÇÃO DE DIRETORES:

IMPLICAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO

Enílvia R. Morato Soares

 

Veiga (1995, p.18) nos ensina que “a participação democrática implica principalmente o repensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista sua socialização”. Socializar o poder no âmbito das escolas passa, portanto, por conceder a pais, estudantes, professores e demais profissionais a possibilidade de participar ativamente do trabalho que nesse espaço se desenvolve, incluindo a escolha dos principais responsáveis por sua organização e condução.

Dentre as diferentes formas utilizadas para o provimento do cargo de diretor escolar (eleição, nomeação e concurso), a eleição é a que melhor atende aos propósitos de democratizar relações no interior das escolas. Embora não garanta, por si só, práticas democráticas de gestão, a escolha do diretor constitui impulsionador da constituição de um ambiente participativo, contribuindo para o declínio de resoluções tomadas de forma autoritária. Busca-se, dessa forma, romper com a cultura da obediência passiva, que muito comumente se observa no interior das escolas, e estimula a construção de aprendizagens de submissão e aceitação acrítica do que está posto.

No Distrito Federal, a eleição de diretores se configura uma conquista histórica da categoria de professores. Por abrir perspectivas para a construção de aprendizagens emancipadoras, a possibilidade de escolher os diretores das escolas públicas atraiu a atenção de diferentes segmentos sociais que, movidos por interesses de classe, lutaram segundo suas aspirações e conveniências.

Por resultar de luta vitoriosa da classe trabalhadora, causam estranheza e preocupam fatos noticiados a partir das últimas eleições ocorridas nas escolas públicas de todo o DF.   De acordo com o relatório divulgado pela SEEDF, em 13 escolas não houve quórum suficiente para as eleições. Ou seja, nessas escolas não votaram sequer 50% dos professores e servidores e nem mesmo 10% dos pais, mães, responsáveis e estudantes. Embora esse número represente apenas 1,9% do total de instituições onde ocorreu o pleito, a falta de interesse em participar desse processo sinaliza haver certo descrédito quanto às melhorias no trabalho pedagógico que dele poderiam resultar.

Essa descrença se desvela ainda quanto ao interesse (ou à falta dele) em concorrer ao cargo. Em 538 das 683 (78,77%) escolas públicas existentes no DF, houve apenas uma chapa concorrente, enquanto em outras 23 as eleições não aconteceram por falta de chapas inscritas. Abrir mão de escolher democraticamente seus representantes ou mesmo de apresentar-se para ser um deles, traz desdobramentos que incidem sobre o trabalho pedagógico desenvolvido e, em decorrência, sobre as aprendizagens que a partir dele se constroem.

Embora seja a sala de aula o espaço escolar convencional para que o processo ensino-aprendizagem se desenvolva, ele não é o único. Isso implica dizer que a construção de aprendizagens não decorre apenas do trabalho pedagógico desenvolvido em sala de aula, mas do que se estende por toda a escola. Aprendemos em todos os espaços e em todos os momentos. A eleição de diretores, assim como tudo o que acontece no âmbito da escola, nos ensina. Que aprendizagens podem resultar desse último pleito? Entre muitas, pode-se destacar:

O comum entre essas aprendizagens é a presença de compreensões que conduzem os aprendentes à sujeição e à resignação, em detrimento de uma formação que promova a autonomia e a emancipação de todos. O enfrentamento das atuais condições sociais, fortemente marcadas por desigualdades econômicas e culturais, se mostram, dessa forma, ameaçadas.

 

 

Referência:

VEIGA, Ilma P.A. (Orgs). Projeto Político Pedagógico da escola: Uma construção possível. Campinas/SP: Papirus, 1995. VEIGA, Ilma P.A. e CARVALHO, M.

 

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