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Desserviço à educação

Encontrei em uma rede social propaganda oferecendo “Avaliações diagnósticas com gabarito”. Os destinatários são professores dos componentes curriculares Português e Matemática do 1º ao 5º anos do ensino fundamental. Os organizadores dessas provas não parecem ser profissionais da área da educação com a formação requerida para atuação no ensino fundamental. Em primeiro lugar, o material por eles oferecido parece compor-se de provas que, consideradas isoladamente, não constituem processo de avaliação. A palavra avaliação, designando processo, não tem plural. Em segundo lugar, a oferta online de provas diagnósticas destinadas a um amplo e desconhecido grupo de estudantes é um engano. Provas, quando incluídas no processo de avaliação formativa, são organizadas pelos próprios professores dos estudantes, com objetivos claros e específicos. Não é aceitável a comercialização desse tipo de provas para atingir um grupo desconhecido de estudantes. Avaliação diagnóstica é coisa séria. É um processo desenvolvido pelo professor no cotidiano do trabalho pedagógico. Designa uma função importante da avaliação destinada a identificar as necessidades de aprendizagem de um grupo de estudantes, por seus próprios mestres. Não visa à sua classificação. Essa avaliação também pode ser de iniciativa dos sistemas de ensino para investigarem as aprendizagens incorporadas e as não incorporadas pelos estudantes para que seja programada a recomposição das aprendizagens o mais rapidamente possível. Portanto, é uma ação planejada e desenvolvida por cada sistema de ensino.   

Assim compreendida, a avaliação diagnóstica é parceira da formativa, destinada a promover as aprendizagens de todos os estudantes. Ambas ocorrem durante o ano letivo para que nenhum estudante fique para trás. Como consequência, o trabalho pedagógico é continuamente reorganizado. Esta é uma tarefa da escola e de cada professor e não de empresas elaboradoras de provas.

Outro site oferece 75 “avaliações” de Português para o ensino médio. Conclama os professores: “conheça agora as avaliações do kit”. Professores, não caiam nessas armadilhas!

Outro desserviço à educação tem sido observado em reportagens e propagandas que envolvem o IDEB.

Pagamento do Prêmio IDEB aos profissionais de uma cidade do Paraná

A Prefeitura da cidade anunciou o pagamento do Prêmio IDEB aos profissionais da educação, atendendo a uma demanda aguardada pela categoria desde o ano passado. O benefício será pago pela atual administração, reafirmando o “compromisso com a valorização dos professores e demais servidores da área”.

Neste ano, a nova gestão priorizou o pagamento a 2663 profissionais da educação. O Prêmio IDEB é considerado um “incentivo concedido aos educadores que contribuem para o avanço nos índices de qualidade do ensino”.

A decisão do prefeito da cidade descaracteriza a função do IDEB, ferramenta para avaliar a qualidade da educação básica e estabelecer metas para a melhoria do ensino. Quaisquer iniciativas de premiação dos profissionais da educação de escolas que obtiveram altos resultados não condizem com o compromisso de oferecimento de ensino de qualidade a todos os estudantes. A Secretaria de Educação desse município precisa investir na formação continuada dos professores para o desenvolvimento da avaliação formativa.

Com o título “Desvendando como melhorar o desempenho dos estudantes no Ideb” uma editora anuncia que no material por ela organizadosobre o Ideb os professores identificarão “melhorias e aprimoramentos para elevar o desempenho dos estudantes e educadores, bem como impulsionar os resultados do principal indicador da educação brasileira da sua rede de ensino”.

A mesma editora esclarece que o material por ela organizado utiliza metodologias ativas e propostas pedagógicas para promover inclusão, criatividade e excelência. Essa editora presta um desserviço à educação ao anunciar erroneamente que seu material é capaz de “melhorar o desempenho dos alunos no IDEB”.

Em outra propaganda encontrei: faça o download gratuito do nosso ebook e descubra como melhorar o desempenho dos estudantes no Ideb.

Tais propagandas existem porque há sistemas de ensino que oferecem prêmios a professores porque seus estudantes se saíram bem nas provas do Ideb. Tudo isso revela descompromisso dos gestores escolares e dos professores com o processo de aprendizagem de todos os estudantes. Como consequência, as famílias dos estudantes podem cair nesse engodo, passando a acreditar que seus filhos precisam ganhar prêmio ao se saírem bem em provas. E os outros estudantes que não conseguem os resultados esperados? Como se sentem? As escolas já pensaram sobre isso?

A escola é educadora. Suas ações contribuem para a formação dos seus estudantes e seus pais.  

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