Olimpíada Brasileira de Matemática cresce e chega às crianças da alfabetização
JC Notícias – 02/05/2022
A organização do evento está lançando a Olimpíada Mirim, primeira competição científica da área voltada para alunos do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamenta das escolas públicas
Bruno Alfano
02/05/2022 – 09:22 / Atualizado em 02/05/2022 – 11:50
É a primeira vez que crianças de 2º e 3º ano vão participar de uma competição de conhecimento em nível nacional como a Obmep.
— Maior olimpíada científica do país, a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) vai crescer ainda mais. A organização do evento está lançando a Olimpíada Mirim, primeira competição científica da área voltada para alunos do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental. É a primeira vez que crianças de 2º e 3º ano vão participar de uma competição de conhecimento em nível nacional.
— A Obmep desperta o interesse nos alunos para se aprofundar em alguns temas. Não só da Matemática, mas outras de que participamos também. Ela é uma ferramenta de apoio do estudante na escola. E quanto mais cedo, acredito que seja melhor para eles entenderem que a olimpíada é um caminho bom — afirma Roberto Filho, professor da Escola Municipal dr. Pompeu Armento, em Maceió, que inscreverá o colégio na competição a partir do 2º ano. — A gente nota nos alunos um interesse em aprender mais, buscar o desconhecido, o novo. A olimpíada ajuda a despertar isso. Estamos agora no meio da Olimpíada de Astronomia e estamos fazendo um foguete!
Escolas públicas municipais, estaduais e federais de todo o Brasil podem se inscrever a partir de 2 de maio na Obmep Mirim. O objetivo, segundo os organizadores, é incentivar o ensino da matemática e transformar a relação das crianças com a disciplina nas séries iniciais, introduzindo aspectos criativos e lúdicos no processo de aprendizagem.
— Claro que quando a gente lida com crianças menores, a competição não é o principal. Vamos fazer, na verdade, uma grande brincadeira duas vezes no ano para estimular o ensino da matemática — afirma Marcelo Viana, diretor-geral do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), que organiza a Obmep.
Viana lembra que, após 16 anos da Obmep no Brasil, já há uma vasta literatura acadêmica analisando os efeitos positivos da olimpíada nos estudantes brasileiros. Já há evidências concretas, por exemplo, de que escolas que se engajaram nesse evento melhoram o desempenho médio de todos — ou seja, mesmo de estudantes que não participaram da prova.
— Um ano de aprendizagem gera, em média, 18 pontos na Prova Brasil. As escolas que se engajaram mais na olimpíada renderam uma média de 26 pontos. É como se tivessem tido meio ano de escolaridade adicional. E o importante é que não é apenas para os competidores, mas para todos os alunos — explica Viana.
Para o coordenador-geral da Obmep, Claudio Landim, diretor-adjunto do Impa, a novidade é mais um passo em direção à melhoria da qualidade da educação básica.
— No país, o gargalo do ensino da matemática se situa nos primeiros anos escolares e é um desafio elaborar perguntas instigantes para alunos que ainda estão em alfabetização — afirmou.
Processo de expansão
Em 2018, o Impa começou o processo de inclusão dos anos iniciais com a OBMEP – Nível A, voltada para alunos dos 4º e 5º anos do Ensino Fundamental. Agora, com a Olimpíada Mirim, o projeto foi ampliado para atender os estudantes do 2º e do 3º ano.
As inscrições são gratuitas e devem ser realizadas entre 2 de maio e 16 de junho pelas escolas ou secretarias de educação no site da Olimpíada Mirim — Obmep, que será disponibilizado em breve, assim como o regulamento. O responsável pela candidatura deve informar o número total de alunos participantes por nível: Mirim 1 (2º e 3º anos do Ensino Fundamental) e Mirim 2 (4º e 5º anos do Ensino Fundamental). Não é necessário fazer a inscrição nominal de cada estudante.
— A participação também é uma forma de ajudar o professor nessa etapa escolar na qual eles não têm formação específica em matemática, mas em pedagogia. E também, em geral, não têm muito bom relacionamento com a disciplina — explica Marcelo Viana.
Professora do 2º e 3º ano da Escola Municipal Marieta da Cunha Silva com curso normal e licenciatura em Letras (Português e Inglês), Elisangela de Andrade do Nascimento conta que melhorou muito seu ensino de matemática a partir da experiência na Prefeitura do Rio da Olimpíada Carioca de Matemática.
— Despertou em mim mais vontade ainda de trabalhar matemática no dia a dia. Essa disciplina é vista como coisa algo muito difícil e temos que acabar com essa ideia desde os anos iniciais. Não é esse bicho de sete cabeças. Tem como a gente aprender porque usamos o tempo todo na nossa vida — diz Nascimento, que foi a professora do 2º ano que mais teve alunos medalhistas na rede e, por isso, fará um curso na Universidade de Columbia, em Nova York.
Duas fases
A Olimpíada Mirim será realizada em duas fases, ambas aplicadas pelas escolas. A 1ª fase ocorre em 30 de agosto, e consiste em uma prova classificatória composta de quinze questões objetivas (múltipla escolha). Alunos classificados nesta etapa poderão participar da 2ª fase, em 11 de outubro, também composta de quinze questões objetivas. O conteúdo das provas corresponde ao grau de escolaridade dos alunos, que são divididos em dois níveis: Mirim 1 e Mirim 2.
— A olimpíada em todos os níveis não se baseia em conhecimento, mas se dirige ao raciocínio. Claro que respeita a BNCC, mas não está focada no conteúdo. Ela coloca a criança perante um problema para ser resolvido com matemática elementar, que não significa ser fácil. Os problemas são difíceis, não é fácil fazer os raciocínios corretos. Só que não precisa estudar muito os livros, precisa dirigir a capacidade de pensar e resolver o problema — avalia Viana.
A 1ª Olimpíada Mirim é uma realização do IMPA, com apoio da B3 Social, da CAPES e do CNPq, além da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM). A competição é promovida pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e pelo Ministério da Educação (MEC).