Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Meu neto mais novo começou a cursar Engenharia da Produção neste semestre, na UnB. Está empolgado e cursando disciplinas à noite, porque faz curso preparatório para desenvolver outra atividade, durante o dia. Fica ocupado todo o tempo, mas não reclama. Está matriculado na disciplina Cálculo 1, três vezes por semana, de 19h às 21h30. É um componente curricular obrigatório para algumas áreas do conhecimento e muito temido pelos estudantes. A reprovação costuma ser elevada. Mas, não é disso que quero tratar.
Na semana passada, uma das aulas passou um pouco do horário e os estudantes tiveram que correr para assistir à seguinte. Meu neto e um grupo de colegas teriam de se locomover para um prédio distante. Como um deles tem carro, ofereceu carona para ele e outros.
Fico pensando: como a universidade pública é grandiosa! Ninguém acompanha a entrada dos estudantes nos ambientes de atividades. Têm autonomia de ir e vir. Entram e saem de sala de aula livremente. Não são controlados. Há os que tiram proveito disso e, por não estarem acostumados a essa independência, se desorganizam e têm insucesso. Contudo, não é a regra. Fui professora da Faculdade de Educação e observava muita responsabilidade dos meus estudantes.
É uma pena que o presidente Jair Bolsonaro, que não frequentou universidade pública, não a prestigie, não a defenda e, pior, faça cortes em seu orçamento, para coibir o avanço de suas atividades.
A gestão universitária é democrática. Seus reitores e reitoras são escolhidos pela comunidade universitária, o que incomoda enormemente o presidente. Em várias situações ele não escolheu o primeiro da lista tríplice encaminhada pelas instituições, após ouvir a comunidade universitária. Os estudantes têm contato com eleição, inicialmente, na universidade, onde não somente adquirem saberes e fazeres das profissões que irão exercer, mas vivenciam o ambiente democrático.
A universidade favorece a diversidade, em todos os sentidos. Todos os estudantes, sem distinção, professores e outros profissionais que nela atuam recebem o mesmo tratamento. Os estudantes se formam em ambiente acolhedor e desprovido de preconceitos, o que parece incomodar sobremaneira o presidente Bolsonaro.
Na mesma semana em que ocorreu o fato relatado, uma estudante foi estuprada à noite, indo de uma prédio para outro. O trajeto que fazia é sempre muito escuro, o que acontece em vários deles. Por que um espaço com grande movimentação de pessoas não recebe iluminação adequada? Por que não conta com seguranças? O descaso com o campus denota ignorância do poder público quanto ao trabalho formador ali desenvolvido. Pensemos nisso no dia em que formos depositar nosso voto na urna eletrônica, em outubro deste ano. Não aos inimigos da educação pública e democrática!