Nick Hanauer: autocrítica de um bilionário filantropo
Diane Ravitch divulga artigo de um bilionário, Nick Hanauer, defensor de escolas charters, no qual ele faz uma autocrítica e explica o equívoco de se achar que consertando as escolas públicas, resolve-se o problema da desigualdade social.
Depois de acreditar nesta ideia e atuar por ela com milhões de dólares colocados na filantropia destinada a financiar escolas charters, ele reconhece que a pobreza e a desigualdade não desaparecerão apenas com melhores escolas, mas será necessário que os mais ricos “recebam menos” e ataquem a desigualdade econômica no andar de baixo.
Ou seja, melhores escolas sem simultaneamente melhorar a distribuição de renda familiar, esperando que mais educação diminua a desigualdade econômica, somente serve aos propósitos da própria elite: acumular mais com a mesma estrutura distributiva, atualizando a força de trabalho para que ela atenda às exigências dos novos padrões de acumulação tecnológicos. Eis o segredo da reforma empresarial da educação revelado por quem está dentro do 1% mais rico.
Ele escreve:
“Ao todo, dediquei incontáveis horas e milhões de dólares à simples ideia de que, se melhorássemos nossas escolas – se modernizássemos nossos currículos e nossos métodos de ensino, aumentássemos substancialmente o financiamento escolar, erradicássemos maus professores e abríssemos escolas charters suficientes – as crianças, especialmente aquelas em comunidades de baixa renda e classe trabalhadora, voltariam a aprender. As taxas de graduação e os salários aumentariam, a pobreza e a desigualdade diminuiriam e o compromisso público com a democracia seria restaurado.
Mas depois de décadas organizando e doando à causa, cheguei à desconfortável conclusão de que estava errado. E eu odeio estar errado.
O que eu percebi, décadas depois, é que esta visão é tragicamente equivocada. Os trabalhadores americanos estão debatendo-se, em grande parte, porque são mal pagos – e são mal pagos porque 40 anos de políticas fraudulentas fraudaram a economia em favor de pessoas ricas como eu. Os americanos são mais altamente educados do que nunca, mas apesar disso, e apesar do baixo desemprego recorde, a maioria dos trabalhadores americanos – em todos os níveis de escolaridade – tem visto pouco ou nenhum crescimento salarial desde 2000.
Para ser claro: devemos fazer tudo o que pudermos para melhorar nossas escolas públicas. Mas nosso sistema educacional não pode compensar as formas como nosso sistema econômico está falhando com os americanos. Mesmo o programa de reforma escolar mais ponderado e bem intencionado não pode melhorar os resultados educacionais se ignorar o maior impulsionador do desempenho dos alunos: a renda familiar.”
E finaliza:
“Esta visão “educacionista” atrai os ricos e poderosos porque fala o que nós queremos ouvir: que podemos ajudar a restaurar a prosperidade compartilhada sem compartilhar nossa riqueza ou poder. Como Anand Giridharadas explica em seu livro Winners Take All: The Elite Charade of Changing the World, narrativas como essa fazem os ricos se sentir bem consigo mesmo. Ao se desviar das verdadeiras causas da desigualdade econômica, eles também defendem o “status quo” grosseiramente desigual da América.
Nós confundimos um sintoma – desigualdade educacional – com a doença subjacente: desigualdade econômica. A escolaridade pode aumentar as perspectivas de trabalhadores individuais, mas não altera o problema central, ou seja, que os 90% de baixo estão dividindo uma parcela cada vez menor da riqueza nacional. Consertar esse problema exigirá que as pessoas ricas não apenas ofereçam mais, mas recebam menos.”
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