“Existe uma realidade para a qual eu, aluno de escola pública, não fui preparado”, escreve Expedito Mendes, que há quatro anos tenta ingressar no curso de medicina de uma universidade pública
Nota dez nas provas, muito elogiado e vencedor de provas interescolares. Essa é a minha honrosa passagem pela escola pública. Porém, tal honraria foi insuficiente para que eu fizesse uma boa prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no meu último ano de ensino médio. Na realidade, foi um fiasco que não me ocorreria nem na pior das minhas hipóteses durante a escola.
Ainda que eu não tivesse o privilégio de estudar em uma escola de alto nível, considero-me privilegiado pelo acesso à internet, por meus pais compreenderem meu desejo de cursar medicina e pela possibilidade de estudar sem a necessidade de um imediato vínculo empregatício. Assim, pela lógica e por aquela ideia ilusória que formei, eu teria alguma chance de concorrer a uma vaga no sonhado curso.
Contudo, ao ler e não entender quase nenhuma questão de exatas do Enem e tampouco saber que ocorreu uma ditadura militar no Brasil, minha visão mudou. Existe uma realidade para a qual eu, aluno de escola pública, não tinha sido preparado e nem mesmo sabia da existência. Descobri que meus anos de preparação não foram para o mundo lá fora, mas para meramente completar a caminhada num sistema superficial e mecânico.
Eu, que era sempre chamado de nerd, fiquei confortável demais ao ouvir de um professor, ao me defender do apelido dito de forma pejorativa, que “os nerds de hoje são os ricos do amanhã”. Assim, permaneci na minha zona de conforto, sem mesmo saber que estava nela. A resposta do professor podia até ser verdade, mas era a verdade de alguém que vivia uma realidade com mais recursos e informações do que a minha.
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