Benigna Villas Boas
O trabalho pedagógico dos cursos de formação inicial e continuada de professores em 2022 enfrentará grandes desafios que os obrigarão a se repensarem. Aquela programação rançosa e repetitiva que os tem caracterizado há anos terá de dar lugar a uma rigorosa reorganização, em função da implantação do novo ensino médio e das necessidades impostas pela pandemia do coronavírus. Deixemos o ensino médio para outra conversa, pela sua especificidade. Interessa-nos, agora, apontar com veemência a responsabilidade desses cursos de se inserirem no pacto pela conquista da qualidade da escola de educação básica, vítima de dificuldades imensas nos últimos dois anos. A expectativa é a de que os cursos de formação inicial e continuada deem uma grande guinada e passem a atuar nessa direção. Sordi (2009) oferece elementos importantes para a compreensão desse pacto.
Estamos entrando no terceiro ano de enfrentamento da pandemia do coronavírus. Estarão os docentes universitários acompanhando as dificuldades das escolas de educação básica para atuarem remotamente com seus estudantes e para o retorno às aulas presenciais? Aproximaram-se delas para apoio e trabalho conjunto? Ou permaneceram alheios aos acontecimentos? Enquanto professores de escolas públicas elaboravam atividades, faziam o seu registro a mão ou pelo computador e as levavam nas casas de estudantes que não sabiam trabalhar usando meios digitais, de que se ocupavam professores de Didática Geral, Didáticas específicas, Avaliação, Currículo, Planejamento e outras disciplinas pedagógicas? Sabem eles que, após realizadas, algumas dessas atividades eram levadas pelos pais às escolas, muitas vezes a pé? O que resultava disso? Houve registro desse trabalho que não havia sido planejado e, mesmo assim, foi executado? Além do necessário apoio às escolas, professores de cursos de licenciatura e formadores das secretarias de educação poderiam ter desenvolvido pesquisas sobre o processo pedagógico inusitado. Se não o fizeram, a insensibilidade pedagógica falou mais alto.
Talvez os professores de cursos de licenciatura e os formadores das secretarias de educação tenham perdido ricas oportunidades de entrosamento com as escolas que, muitas vezes, não mediram esforços para criarem possibilidades de aprendizagens para seus estudantes.
O momento de fragilidade vivido pela educação básica brasileira exige união de esforços de docentes universitários, estudantes de cursos de licenciatura e profissionais das escolas, em busca do fortalecimento das aprendizagens de todos os envolvidos, principalmente dos estudantes das escolas. Não se pode esperar. A hora é agora. O início do ano letivo de 2022 se aproxima.
A construção desse pacto de qualidade requer que a avaliação ocupe lugar de destaque, pelo seu caráter estratégico e sensível. É estratégica porque, por seu intermédio, se diagnosticam as necessidades de aprendizagem de estudantes e professores, a partir das quais se definem os objetivos e se selecionam os meios para o desenvolvimento das atividades. A avaliação é o componente do trabalho pedagógico que o inicia, o acompanha, aponta as necessidades de intervenção, as conquistas obtidas e fornece elementos para a sua continuidade. Não representa um ponto final, já que está em constante movimento.
Por tudo isso, a avaliação se reveste de sensibilidade, devendo pautar-se pela ética, inclusão e continuidade.
As considerações apresentadas indicam que a aprendizagem da avaliação “precisa ser elevada à condição estratégica nos processos de formação docente, sejam eles iniciais ou permanentes” (SORDI; LUDKE, 2009, p. 16).
REFERÊNCIA
SORDI, Mara Regina L. De; LUDKE, Menga. Da avaliação da aprendizagem à avaliação institucional: aprendizagens necessárias. In SORDI, Mara Regina L. De; SOUZA, Eliana da S. A avaliação como instância mediadora da qualidade da escola pública. Campinas, SP: Millenium, 2009.