Paulo Freire e a luz da ciência contra a escuridão
“Há nessa torrente de homenagens a Paulo Freire um impulso rumo à esperança, de que estamos tão carentes”, afirma Vanderlan Bolzani, professora do Instituto de Química da Unesp Araraquara, presidente da Aciesp e membro do Conselho da SBPC, em artigo para o Jornal da Ciência
As tão merecidas homenagens ao educador Paulo Freire, quando se comemora os cem anos de seu nascimento, vêm marcadas com uma eloquente mensagem neste momento da cena brasileira. São centenas de artigos em publicações especializadas e nas redes sociais; depoimentos, memórias, comentários, vídeos, podcasts e charges, aos quais se somou a imagem de Paulo Freire no maior website mundial de buscas, o Google, na página de abertura, no dia 19 de setembro. Homenagens desta magnitude foram conferidas a poucos brasileiros ilustres.
Além de enaltecer a obra do pedagogo, cujo trabalho está presente na vida de milhões de pessoas, as homenagens mostram o que é impossível não ver.
O advogado que se tornou educador, dizem seus biógrafos, foi buscar na Filosofia os fundamentos teóricos para dar corpo a uma visão revolucionária sobre a educação, visão em que o ser humano, universal, tem voz. A base teórica foi encontrada principalmente na filosofia surgida na Europa, nos séculos XIX e XX. Esta, por sua vez, caudatária do trajeto milenar percorrido pelo conhecimento científico na chamada civilização ocidental.
Talvez o fato seja particularmente incômodo para os que tentam minimizar a importância de Paulo Freire. Sua obra está ancorada na Ciência. Faz parte da mais antiga world wide web, formada durante séculos, onde se sedimentam pequenas e grandes contribuições científicas, e continua sendo o principal instrumento do homem para assegurar sua sobrevivência no Planeta.
A mensagem que não pode ser ignorada traz também uma estimulante substância para quem está empenhado em fazer com que a Ciência predomine sobre o desconhecimento e a superstição. Há nessa torrente de homenagens a Paulo Freire um impulso rumo à esperança, de que estamos tão carentes.
É como se, diante dessa situação angustiante, decidíssemos apelar para uma figura de sólida integridade, referendada por instituições acadêmicas em todo mundo, para nos ajudar em um momento tão crucial. Uma figura que pode nos inspirar a continuar alertando sobre os riscos do aquecimento global, a continuar insistindo que somos parte da perecível biodiversidade e não usuários de um bem descartável. As homenagens prestadas ao educador Paulo Freire em todos os cantos deste imenso Brasil e também nos principais meios de comunicações nacionais e internacionais pode nos ajudar a ter esperança.
*O artigo expressa exclusivamente a opinião de seus autores