Reportagem da revista Tes, do Reino Unido, de 03/08/2020, discute a obrigatoriedade ou não da adoção do dever de casa. Ian Thurston afirma ser ele a desgraça da vida de professores, pais e estudantes, invadindo até o horário de suas refeições e causando discórdia. Mas não é o que acontece em uma escola em Dubai, onde é opcional. Porém, para leitura e matemática, ele continua sendo obrigatório.
Ian Thurston, diretor da escola que encabeçou a mudança, inquieto com o que presenciava, afirma que sempre perguntava: por que continuamos com a prática do dever de casa? Ter como resposta “sempre fizemos assim” não o convencia. Por isso, a escola desenvolveu uma pesquisa junto aos pais sobre a conveniência da manutenção do dever de casa. Mais de 70 porcento deles disseram que esta atividade estava tendo impacto negativo no bem estar dos seus filhos e entre 50 e 60 porcento percebiam que não estava contribuindo para as aprendizagens.
Estes resultados conduziram a mudanças: tornou-se opcional, exceto para leitura e matemática. A justificativa para a continuidade dos deveres de leitura foi o fato de a escola ser bilíngue: três noites foram reservadas para as atividades de Inglês e Árabe e três para as de Inglês. Quanto à obrigatoriedade de Matemática, se explica pelo seu impacto nas aprendizagens de outras áreas, como negócios. Cabe destacar que os estudantes das escolas que trabalham cerca de 6 horas diárias fazem os deveres de casa à noite.
Outra mudança significativa: o dever de casa passou a ser denominado de “aprendizagem em casa”, o que lhe conferiu um caráter mais ameno. Todas as decisões foram tomadas com a participação dos pais.
Thurston explica que, sendo opcionais, as aprendizagens em casa podem ser organizadas de maneira mais interessante e com menos pressão sobre os estudantes. E acrescenta: no Oriente Médio, o tempo em família é parte especialmente importante da vida das crianças. Os pais aplaudiram a ideia por entenderem que seus filhos poderão ter vida de crianças, aprender outras coisas e não precisarão de ter medo desse tipo de atividade.
A denominação “aprendizagem em casa” retira o ranço massacrante do dever de casa. Em uma das pesquisas por mim conduzidas, assisti à seguinte situação: diariamente, a primeira atividade da professora junto a uma turma de 1ª série do ensino fundamental consistia em passar de carteira em carteira para “verificar” quem havia feito o dever de casa. Simplesmente verificar. Não importava como havia feito. Não interessava identificar as necessidades de intervenção. Tratava-se de uma atividade mecânica, sem consequências para o processo de aprendizagem, porque, a partir daí, a aula assumia outro rumo. Pior do que isso: quem não o tivesse feito tinha imediatamente o seu nome registrado no quadro de giz, o que significava que não teria recreio. Nesse ambiente e sabendo de antemão que não encontrariam os amigos no recreio, os estudantes não tinham condições de participar do trabalho escolar. Em uma das ocasiões, a professora disse a uma menina que não havia feito o dever: “sua mãe não pára em casa nem pra te dar ajuda?” Esta situação foi humilhante e descabida. As crianças assistiam a tudo isso “murchinhas”, sem reação. Todas estas foram situações de avaliação informal a que se submeteram crianças de cerca de 7 anos de idade e indefesas. Muitas vezes o dever de casa extrapola os seus objetivos declarados.